03/08/2021 às 10h10min - Atualizada em 04/08/2021 às 00h00min

Cinema pelos olhos de quem faz arte

A atriz Lara Cardoso comenta quatro filmes clássicos do cinema nacional, como Central do Brasil e Carandiru

SALA DA NOTÍCIA Priscilla Silvestre

Instagram @laracardoso_larica
Nós últimos anos, inúmeros títulos de filmes nacionais dividiram as atenções com os lançamentos estrangeiros. E não foi rara a preferência pelas películas produzidas por aqui. Com roteiros que passeiam facilmente entre comédia, drama e até terror, alguns concorreram a prêmios internacionais – inclusive como mais cotados para vencer – e não foram sucesso apenas de crítica, mas de público.
 
“Crescemos, especialmente a minha geração, que já passou dos 40, acostumados a achar que filme brasileiro era só pornochanchada e filme B. Mas desde que o Brasil concorreu ao Oscar com “O Quatrilho”, ainda nos anos 90, a visão desse mercado mudou. E não é por acaso. Títulos como “Cidade de Deus” e “Tropa de Elite” colocaram as produções nacionais em nível internacional e chamaram a atenção de enorme parcela do público que consome cinema, e não apenas de quem trabalha no setor. Nomes como Fernanda Montenegro, Regina Casé, Lázaro Ramos e Paulo Gustavo fizeram as bilheterias nacionais acumularem recordes com diferentes tipos de trama”, comenta a atriz Lara Cardoso, que atualmente está em cartaz na peça ‘Acontece nas melhores famílias’.

 
A seguir, ela fala um pouco mais sobre 4 filmes que os brasileiros não podem deixar de assistir e que ajudam a entender a evolução do cinema nacional. Confira:
 

“Central do Brasil”

A atriz mais reverenciada do Brasil concorreu ao Oscar com esse filme, o que aumentou a curiosidade em torno do título. Mas ele é muito mais que isso.

O filme coloca na tela a vida de milhares de brasileiros que enfrentam uma vida sem oportunidades, muitas vezes entrando no crime para tentar conseguir dinheiro (como quando Dora, a personagem de Fernanda, tenta vender o menino).

A obra mostra não apenas a falta de oportunidades na cidade grande, como a realidade de quem busca migrar dentro do país em busca de mais qualidade de vida, o que quase nunca dá certo. Mas há momentos sublimes e até felizes, como quando Zeca encontra os irmãos ou quando ele e Dora percebem que são importantes um para o outro.

O final, por muitos considerado triste, é uma ode à realidade de muitos que precisam de afastar de quem amam para seguir sua vida e seu destino.
 

“Cidade de Deus”

Pode-se dizer que existe o antes e depois de “Cidade de Deus” no cinema brasileiro. Meirelles imprimiu um estilo de cinema que é muito particular.

Assim como reconhecemos um filme quando é de Woody Allen ou David Lynch apenas pelo enquadramento ou estilo dos personagens, com o diretor brasileiro acontece o mesmo: a gente percebe pelos cortes, o “vai e vem” das cenas e a velocidade em que tudo aparece na tela. E é sublime assistir a isso.

O filme mostra a realidade do tráfico, como muitos entram ainda crianças, como ele se profissionalizou e mudou a realidade das comunidades ao longo dos anos, e como é a vida para os que tentam sair desse meio. Há cenas de muita violência, mas que não estão ali sem propósito. Muito pelo contrário. Elas compõem e dão sentido à narrativa.

Outro traço do diretor é ter um narrador para a história, que, nesse caso, é um morador do local que já presenciou ou ouviu histórias da comunidade.
 

“Carandiru”

Se em alguns filmes a trama tem como objetivo imitar a realidade, aqui ela conta o que esteve nos noticiários de verdade, e desvenda o que não foi contado. Baseado no livro do Drauzio Varella, o filme fala sobre a rotina do presídio antes do massacre ocorrido em 1992.

A trama acontece em torno do médico interpretado por Luiz Carlos Vasconcelos. Ele atende os presidiários, ouve suas histórias e participa de alguns desdobramentos de suas vidas.

Mas “Carandiru” também mostra a tensão que acontecia dentro do local, o que acabou provocando a rebelião e, consequentemente, o massacre pela PM de São Paulo.
 

“Que horas ela volta?”

Regina Casé está absolutamente fantástica nesse filme – inclusive com uma interpretação muito semelhante a que fez em ‘Amor de mãe’. Mas, aqui, ao contrário da Lourdes da novela, ela é uma mulher que não tem, inicialmente, o reconhecimento da filha, que pensa – e quer – fazer parte da família dos patrões.

Assim como “Central do Brasil”, é uma crítica social bastante forte, que mostra que o “ela é quase da família” na realidade não passa de uma falácia de quem tem melhor poder aquisitivo e que quer manter o poder de mandar e desmandar em cima do mais vulnerável.

Além disso, traz para a tela grande a realidade de milhares de brasileiros que precisam sair de sua terra natal para tentar a vida em grandes centros e, por vezes, deixar os filhos. Um drama que, por vezes, passeia pela comédia, mas que constrói, ao longo do filme, um mal estar crescente à medida em que se percebe que todos conhecemos alguém que trata empregados domésticos dessa forma – alguns, inclusive, se reconhecem.
 
 
 


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